No
gaveto da Rua de Cedofeita com a Rua Miguel Bombarda localiza-se um prédio
muito interessante que só choca devido ao estado de degradação a que chegou.
Pior do que o seu estado devoluto só mesmo o vandalismo que acabou por
sacrificar muitos azulejos das fachadas que ainda os contêm, de uma viva
tonalidade laranja, que chama muito facilmente a atenção e cativa a curiosidade
por quem ali passa.
O
prédio dispõe de várias entradas, assinaladas pelos números 139-143-145-149
ocupados por galerias comerciais ainda em plena actividade (e muito mais
cuidadas) viradas para a Rua de Cedofeita, enquanto dispõe de um portão e
outras entradas viradas para a Rua Miguel Bombarda, da qual se vê as suas traseiras,
que acusam uma degradação praticamente generalizada. É curioso como o prédio acusa
uma disposição palaciana e conjuga uma influência marcadamente neoclássica –
são visíveis frontões circulares sobre as janelas em guilhotina na fachada
principal virada para a Rua de Cedofeita, várias cornijas salientes em que na
fachada virada para Miguel Bombarda relembram no seu encontro a parte superior
de um frontão triangular e as janelas quadradas do último piso lembram
mezaninos (entre outros detalhes) – com a arquitectura privada portuense
característica da segunda metade do século XIX.
Cientes
de que a Rua de Cedofeita foi rasgada no século XVIII por vontade de João de
Almada e Melo e, tendo em conta os pormenores construtivos do imóvel, não nos
admiraria que as suas origens remontam a esta época (embora seja uma hipótese
que certamente levante muitas dúvidas). Ignoramos o nome do seu arquitecto, mas
sabemos que a sua configuração actual resulta sobretudo das intervenções de um
proprietário abastado chamado João Borges de Almeida, que aqui residiu nos anos
70 do século XIX; é João Borges de Almeida quem requere licença à câmara para
construir uma cocheira nas suas traseiras em 1876, quem intervenciona nas suas
fachadas no mesmo ano (tendo certamente sido o responsável por mandar
revesti-las por painéis de azulejos e colocar o gradeamento nas suas varandas),
e que opta por construir um muro de vedação e o portão virado para a Rua Miguel
Bombarda (então designada por «Rua do Príncipe») em 1877. A crer que o prédio não
tenha sido erguido senão no século XIX e que a sua construção se deva antes à
vontade de João Borges de Almeida, o que acabamos de descrever será muito
provavelmente um edifício “neo-almadino”
e não “almadino”, como algumas das
suas características podem levar a crer.
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