Aquele que é um dos
palácios do século XVIII mais notáveis do Porto e pertença de uma das famílias
nobres mais ricas e ilustres na região durante este período de tempo é pouco
mencionado ou referido pelo poder local ou pela instituição que explora aquele
que é conhecido como o edifício dos Armazéns do Cais Novo – Museu do Vinho do
Porto. O que não parece ser por acaso, dado o estado de degradação da Casa do
Cais Novo (da qual até existe uma escassez notável de fotografias nos meios de
divulgação públicas!), apenas alimenta a confusão entre aqueles que a
relacionam com a antiga Fábrica de Louças de Massarelos ou até com uma casa de
hóspedes e pertença do arruinado Convento de Madre Deus de Monchique.
Um olhar mais atento à
Casa do Cais Novo comprova que na realidade se trata de um verdadeiro palácio
senhorial e assim indica a presença do brasão dos Pinto e Cunha na fachada
virada para o rio Douro, família ligada à produção do Vinho do Porto e
estreitamente relacionada com a Companhia Geral da Agricultura e Vinhos do Alto
Douro instituída em 1755 pelo então primeiro-ministro do reino Marquês de
Pombal. Foi devido ao fluxo de negócios que a família projectou a construção
dos seus armazéns para o desembarque de vinho que mais tarde, em 1822, chegou a
servir de alfândega, ficando conhecida por Alfândega de Massarelos. Mas este amplo
edifício que é agora um dos mais significativos museus da região tem como
vizinha a casa nobre cujo estado de abandono deixa tão pasmados os turistas quanto
o seu valor patrimonial, uma vez que é possível reconhecer alguns ornamentos
barrocos que contrastam com a sua sobriedade geral. Não nos é possível saber
quem foi o seu arquitecto, mas se tivéssemos de adivinhar ou especular teriamos de inclinar-nos para uma possível obra de José Figueiredo Seixas, responsável por um trabalho que seguiu as
linhas do barroco e do rococó (rocaille)
até acompanhar a arquitectura mais sóbria do período Pombalino.
Junto à Casa do Cais
Novo ainda subsistem as ruínas de uma antiga fábrica de encerados da primeira
metade do século XX que terá sacrificado parte da casa. Mais tarde acabou
também abandonada e devoluta, até se ter deflagrado um incêndio no seu interior
que obrigou à demolição de uma parte do edifício no ano de 2010. Chegou ainda a
ser utilizado por ocupas, mas acabaram expulsos pelas autoridades nesse mesmo
ano. A casa senhorial, além da sua localização privilegiada, juntamente com as
ruínas da fábrica de encerados, apresenta a nível de espaço e de interesse
turístico todas as condições reunidas para ser reabilitada e transformada num
hotel. E essa intenção parecia ter surgido há alguns anos atrás, tal é a sua
relação com o Museu do Vinho do Porto, mas que infelizmente não se veio (até ao
momento) a concretizar.
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