29/01/2016

Vale a Pena Comemorar o que Foi Destruído?



Em cima: Fotografia da Avenida dos Aliados nos Anos 60 do séc. XX. Nota-se a alternância de vegetação com a Calçada à Portuguesa.

Pode parecer um assunto digno de controvérsia, de debate ou até polémico, mas quando se está do lado de quem protege a integridade do Património e da valorização de espaços históricos, não se pode olhar para a actual Avenida dos Aliados e compará-la com a antiga sem se referir à mesma senão como um processo de destruição.

José Marques da Silva e Barry Parker idealizaram juntos uma das avenidas mais elegantes da Europa que se destacava não só por incluir edifícios emblemáticos que transmitiam o melhor do Eclectismo e das Beaux-Arts, como tiveram ainda a visão de valorizar o seu conjunto de praças revestidas com a típica Calçada à Portuguesa (que já está em extinção no Porto e foi retirada de todas as praças históricas). Não tiveram problemas em adicionar-lhes elementos verdes e bancos de jardim que convidavam as pessoas a passear e desfrutar do local.

Infelizmente, o que aconteceu durante uma época em que existia mais dinheiro para alterar praças do que para reabilitar edifícios classificados (e emblemáticos) devolutos, a Avenida dos Aliados sofreu um atentado de quem pouco sabe valorizar o que há de mais notável e exclusivo numa cidade. As justificações foram várias – mas podemos contra-argumentá-las (e eventualmente iremos fazê-lo mais tarde) – mas não convenceu todos. Na verdade, não convence historiadores, não convence artistas, não convence visitantes ou turistas que se lembram de como era a anterior avenida, não convence os que realmente apreciam grandes nomes da arquitectura portuense como José Marques da Silva, não convence arquitectos paisagistas ou urbanistas que dão maior importância à aprazibilidade e mais-valia ambiental do espaço, não convence metade (ou até mais) dos cidadãos do Porto.



Podemos apontar o erro a vários responsáveis, mas não vamos só citar o que é óbvio. As Praças Históricas já notabilizadas deveriam ser classificadas e protegidas! E a velha Calçada Portuguesa – que até pode ser reinventada – também deveria ser mais valorizada. O que vemos hoje na Avenida dos Aliados é uma paisagem estéril, pobre e incoerente com a sua própria história que uns teimarão em defender apenas porque se trata de um projecto de Siza Vieira e Souto Moura (esquecendo-se que os próprios arquitectos manifestaram o seu descontentamento quando a própria Câmara desconsiderou a colocação de mais árvores nas praças como intencionavam, nomeadamente carvalhos e bordos); mas se tivesse sido obra de alguém menos conhecido, maior teria sido o protesto e apontavam o que seria evidente.

É por isso que, tomando conhecimento de que a Fundação Marques da Silva e a Câmara Municipal do Porto assinalam no dia 1 de Fevereiro, pelas 19 horas, o centenário do lançamento da obra da Avenida dos Aliados somos levados a questionar: Vale a pena comemorar o que já foi destruído?

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