27/03/2014

O Destino da Fábrica do Cobre


O destino do complexo fabril da antiga Sociedade Portuguesa do Cobre continua a ser incerto. Situada em Campanhã, junto da Circunvalação e muito próxima da cidade de Rio Tinto, permanece como um local vazio e degradado. Há fábrica abandonadas do norte a sul do país, muitas das quais são hoje em dia autênticas carcaças, testemunhas tristes e silenciosas de tempos em que o sector económico de Portugal foi dominado pelo sector industrial. A cidade do Porto não é disso excepção e o estado completamente arruinado da Fábrica do Cobre deixa-nos desolados.


Não vale a pena fingir que esta ampla carcaça fabril é tão emblemática quanto a antiga Fábrica de Cerâmica das Devesas ou quanto o antigo Matadouro Industrial de Campanhã (que certamente necessitam de ser reabilitados), ou que a sua recuperação é de todo prioritária para a nossa cidade. Também é certo que uma das melhores soluções para o reaproveitamento do complexo passa pela demolição das paredes ainda existentes (referimos isto com algumas reticências). Mas nas mãos de particulares também questionamos porque nunca se ponderou fazer uso da estrutura já existente da fábrica, reabilitando-a dentro do possível, e projectado uma função completamente diferente e ainda assim rentável.


O destino da Fábrica do Cobre tem de ser fatal, tal como a antiga Fábrica de Sabão de Lordelo do Ouro, recentemente demolida para combater o tráfico e o consumo de droga?

Uma das últimas notícias dá conta que a SONAE colocou à venda o terreno da fábrica em 2010 pelo preço de 10 milhões (anos após a rejeição da Câmara Municipal do Porto da transformação da fábrica num novo hipermercado). O objectivo determinaria que o local em questão serviria para habitação ou instalação de serviços de comércio, mas desde então nunca mais o terreno foi vendido ou se fez coisa alguma.


Deixamos a questão ao leitor: O que faria com todo este complexo arruinado se tivesse meios para investir e reaproveitá-lo? Deixe-nos a sua sugestão, por favor.

25/03/2014

Fábrica do Bonfim Nº326


Em 1882, o industrial Carlos da Silva Ferreira requer licença para construir o Nº326 da Rua do Bonfim, junto à sua já existente fábrica de fiação e tecelagem de algodão (uma entre várias situadas na mesma rua), que funcionava com pouco mais de uma dezena de funcionários. O Nº326 servia então de habitação junto à fábrica e apresentava uma fachada nobre, imponente, carecterística da época, com altos janelões rectangulares, uma alta porta e vários gradeamentos trabalhados em ferro.

Já em 1901, quando a fábrica já passara para a direcção de Manuel Pinto de Azevedo, é requerida uma nova licença para ampliá-la. A fábrica voltará a sofrer uma nova ampliação em 1916 e, vinte anos depois, amplia-se de tal maneira que toma conta do interior do edifício, com o intuito de melhorar as condições de higiene e trabalho dos seus operários, contando com projectos dos arquitectos Manuel da Silva Passos Júnior e Leandro de Morais, ambos discípulos de Marques da Silva, com a participação dos engenheiros Mário Borges e Jorge Vieira Bastian.

Manuel Pinto de Azevedo é um dos maiores empreendores da sua época e este edifício testemunhou-o. Criou um autêntico império industrial e destacou-se na sua actividade política, bem como a preocupação social pelos seus operários. Se não tivesse sido o forte investimento deste industrial, a Rua do Bonfim, bem como a freguesia, jamais seria a mesma. 

Edifício Nº328 - 334 da Rua do Bonfim


No ano de 1868, o proprietário Serafim Ribeiro apresentou a sua proposta para a construção do actual edifício que ocupa vários números entre o 328 e o 334 da Rua do Bonfim para servir de habitação. Serafim Ribeiro era fiscal e pertenceu à mesa administrativa da Irmandade do Santíssimo Sacramento e Senhor do Bonfim e Boa-Morte. Em 1883, residindo já naquele edifício, pede licença para o acréscimo de um segundo piso com terraço e portais em arco quebrado.

Mais tarde, o conjunto habitacional foi adquirido pelo industrial Manuel Pinto de Azevedo, dono empreendedor da antiga Fábrica de Tecidos do Bonfim, que em 1921 realiza obras de pintura e substitui a telha primitiva (o muro ameado ao lado, que indica uma propriedade que pertence actualmente ao colégio D. Dinis contém azulejos com a descrição "Fábrica do Bonfim Manoel Pinto d'Azevedo"). O edifício permaneceu nas mãos da família de Pinto de Azevedo desde então. Não se destaca apenas pelos portais de arco quebrado do último piso, como apresenta uma fachada coberta de azulejos azuis e brancos em contraste com o vermelho das molduras das janelas e das portadas.

24/03/2014

Palacete da Rua do Bonjardim


Em 1906, Custódio José da Costa, morador na Praça da Trindade, pede licença para a construção de um notável palacete tipo chalet na sua propriedade junto da Rua do Bonjardim. Encomendou o desenho da obra ao engenheiro António Rigaud Nogueira, igualmente responsável pelo projecto de outro palacete semelhante no Nº1316 da Rua de Santa Catarina (que é posterior).

Neste terreno terá existido outro prédio, que foi demolido para dar lugar a este palacete com influências e traços neogóticos, do qual é mais característico o torreão de planta hexagonal. Rasgado por dezenas de janelas, contendo ainda varandas com balaustradas, a nível decorativo destaca-se pelos azulejos verdes que cobrem todas as fachadas e os trabalhos em ferro forjado dos gradeamentos que já sugerem uma influência da Arte Nova.


Este edifício notável já não está à venda; ao que tudo indica, felizmente, será reabilitado por particulares. 

21/03/2014

Casa Nº55 da Reboleira

Entre os diferentes exemplos da arquitectura civil medieval no Porto destaca-se a Casa Nº55 da estreita Rua da Reboleira que faz esquina com a Rua do Outeirinho. É de supor que seja uma habitação que deverá remontar ao século XIV (segundo se interpretam alguns elementos a nível da cave). Já a sua fachada principal, virada para a Rua da Reboleira, conjuga elementos do final da Idade Média, com portais de arco quebrado (góticos) no rés-do-chão e ameias no topo, com outros elementos do barroco que indicam que a casa poderá ter sido transformada já no século XVII, dos quais se destacam as janelas rectangulares nos pisos superiores. 

Independentemente das suas origens (às quais não se podem apontar sempre com exactidão), a casa está fechada e demonstra sinais de abandono. A fusão entre o gótico e o barroco é singular, mas mesmo assim destaca-se pelo seu ar sombrio e lamentamos que não tenha uma utilidade, tal como a vizinha Casa-torre Nº59, que ainda conserva a maior parte dos traços característicos da arquitectura medieval do século XIV e funcione como centro de dia, de convívio e lar de idosos.


11/03/2014

Casa Neomanuelina da Foz


A Casa Neomanuelina, também conhecida por Casa do Relógio (por ter um relógio de sol incorporado) nunca deixou de atrair a curiosidade e o fascínio dos muitos visitantes que passam pela zona da Foz, na Avenida Brasil.

Fascinante e emblemática, é única na cidade do Porto. O projecto da casa terá sido desenvolvido por volta de 1907 e a sua construção prolongou-se até 1910, segundo vontade do capitão republicano Artur Jorge Guimarães e da sua mulher Beatriz. O desenho da casa é atribuído ao arquitecto José Teixeira Lopes − irmão do famoso escultor António Teixeira Lopes − igualmente responsável pelo projecto da sede do Banco de Portugal no Porto (em colaboração com Ventura Terra) e da casa do irmão (actual Casa-Museu Teixeira Lopes, em Vila Nova de Gaia).

Nesta casa, o revivalismo do Manuelino funde-se com os preceitos de uma bela moradia de quatro andares com um torreão central, quase palaciana, própria dos inícios do século XX. Realça-se a sua riqueza escultórica, de arcos e colunas, janelas emolduradas, a par dos magníficos azulejos com motivos dos Descobrimentos. Nos seus pormenores decorativos podemos contemplar cordames e as cruzes da Ordem de Cristo, além do relógio de sol que lhe deu o nome.


A questão é: Como pode uma casa tão emblemática permanecer neste estado, votada ao abandono? Aparentemente, a viúva do capitão Artur Jorge Guimarães deixou a moradia após o falecimento do marido, tendo-a deixado para os seus herdeiros, mas terá sido ilegalmente ocupada por um sapateiro durante os anos 70 do século XX, que dela fez a sua casa e local de trabalho. O sapateiro terá negligenciado a casa e entrou em litígio com os herdeiros da casa, processo que se arrastou nos tribunais durante anos e que nunca se acabou por resolver.

O sapateiro acabou por sair da casa, mas desde então, esta permaneceu abandonada. O seu interior acabou por servir os interesses de vândalos que não o pouparam. Para maior constrangimento da situação, as nossas últimas informações dão conta que a casa chegou a estar na lista para classificação de património, mas foi retirada pelo IGESPAR em 2008, por motivos que nos são alheios. Dificilmente ficaremos alheios à tristeza que causa aos que contemplam a sua impressionante fachada, virada para o mar, à espera de uma valorização mais adequada.

06/03/2014

Quartel de S. Brás


São muitos os lugares marcantes do Cerco do Porto que opôs liberais e absolutistas em combates violentos pelo controlo da nossa cidade, entre 1832 e 1833. No entanto, o Quartel de São Brás parece ter sido esquecido como um dos pontos-chave da defesa do Porto pelos liberais, onde efectivamente existiu uma antiga fortaleza consagrada ao mesmo santo, que viria a definir o nome da artéria que é hoje a Rua de São Brás.

Mais tarde, a fortaleza transformou-se num quartel que foi sede dos telegrafistas, tornando-se mais tarde a Casa da Reclusão da 1ª Região Militar no ano de 1963. Em 1993 o quartel foi desactivado pelo Estado-Maior do Exército. A partir desse ano nunca mais foi dada função alguma ao quartel, quase tão esquecido quanto abandonado. Curiosamente chegou a albergar o valioso espólio do Museu de Etnografia do Porto, que proveio de um outro edifício também abandonado − o Palácio de São João Novo, do século XVIII.


Como presidente da Câmara Municipal do Porto, Fernando Gomes tentou estabelecer um acordo com o Ministério da Defesa em 1997 para adquirir o Quartel de São Brás e um novo acordo quase foi celebrado em 2001 para que a autarquia tivesse direito à utilização do espaço, mas tal ficou sem efeito. Nesse mesmo ano a Escola Carolina Michaelis sugeriu a instalação do Conservatório de Música no mesmo quartel. Mais recentemente, candidatos à Câmara Municipal do Porto que acabaram por ocupar o cargo de vereadores sugeriram que o quartel fosse utilizado como um espaço cultural, estando ao dispor de músicos/artistas (ora a associações, ora a agentes culturais).

O Quartel de São Brás permanece abandonado e ainda desconhecemos o que lhe reserva o futuro, apesar da notória placa que assinala a fachada do corpo principal do quartel virada para a Rua de São Brás como «Património do Estado». 

04/03/2014

Colégio Luso Internacional do Porto


Nós não percebemos o projecto de reabilitação do Colégio Luso Internacional do Porto. Aliás, ninguém parece perceber. Não se percebe se as obras avançam, ou se foram interditadas, se estão apenas interrompidas, ou se há realmente um projecto em vigor. Sabe-se apenas aquilo que já se sabia há um ano atrás, e um ano anterior a esse: as ruínas do Colégio Luso Internacional continuam a ser ruínas.

Construído no início do século XX, foi propriedade da STCP e funcionou como uma subestação de fornecimento de energia aos eléctricos da cidade. Esteve activo até 1974, ficou devoluto e foi cedido em 1986 para servir então de colégio, onde funcionou como tal durante mais de dez anos.


Quando em 2001 foram inauguradas as novas instalações do Colégio Luso Internacional, o edifício voltou a ficar sem utilidade. Foi previsto transformar-se numa discoteca e existe um projecto da mesma, do grupo K, conhecido por “Kasa da Praia”. Sempre existiram pareceres negativos ou contrários a este projecto por parte do IPPAR e o processo desenrolou-se até hoje, permitindo que o edifício chegasse ao completo estado de ruína.

No âmbito das últimas corridas de automóveis na Avenida da Boavista, em 2013, as paredes das fachadas exteriores do edifício foram pintadas. E existem todos os sinais que indicam a vontade de reabilitar o edifício desde então… Mas reabilitá-lo para se transformar no quê? Na referida discoteca? E porque as obras se arrastam de uma forma tão vagarosa? Ninguém sabe.

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